quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A insustentável leveza do ser

Um livro que eu li há muito tempo e que me marcou foi “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera. Apesar da memória já haver esquecido detalhes da história, o sentido maior do livro ficou. É um livro que, como poucos, explora as vastidões do território do amor. Usando como pano de fundo o episódio que ficou conhecido como "Primavera de Praga", quando os soviéticos invadiram a Checoslováquia no final da década de 60, o autor tece um enredo altamente sensual e conflituoso como uma espécie de analogia ao que ocorria no país.
Em princípio, parece ser uma história bem simples. Tomas um médico-cirurgião divorciado, auto-suficiente em tudo, tem por hábito não se apegar a nada e nem a ninguém. Deste modo sua vida tem uma reviravolta quando conhece Teresa, que é seu oposto e vive buscando uma fortaleza alheia, um amor verdadeiro. Eles passam a viver juntos, embora Tomas continue a se envolver sexualmente com outras mulheres. Paralelo a isto está sua amante, Sabina, que funciona como uma válvula de escape, um mecanismo que faz ele se sentir leve quando necessário e que,aparentemente, é igual a ele no campo emocional, por não conseguir se envolver profundamente com ninguém.
A simplicidade aqui só está encenada, pois a obra é muito mais complexa do que se possa imaginar. Está dividida em partes não lineares com a finalidade de descortinar de maneira distinta a personalidade de cada personagem. Deste modo na primeira parte somos tragados pela perspectiva libertina de Tomas, depois entramos no mundo conflituoso de Teresa, seguido pela vida descompromissada da sensual Sabina e assim sucessivamente. Aliado a essa característica está o fundo filosófico colocado pelo autor fim de contextualizar os problemas vividos pelos personagens.
O próprio título já é um prenúncio do que será lido. O tema principal se concentra em torno de dois conceitos: o do peso e o da leveza. A leveza de Tomas e Sabina, que vivem a vida de forma arbitrária, uma leveza que está fadada ao vazio de não viver em plenitude. Do outro lado está o peso de Teresa, que enxerga a vida com um certo amargor, porém com maior profundidade de emoções.
O autor coloca, através do relacionamento de Tomas e Teresa, que o amor não é garantia de felicidade, pois as pessoas são diferentes na maneira como manifestam esse amor.
Acima de tudo, o livro trata da felicidade da busca, ou seja, somos felizes porque buscamos a felicidade. E a obra propõe esta busca ao leitor, através de um texto maravilhoso, que nos leva ao autoconhecimento, revelando-nos as facetas dos relacionamentos humanos tanto no campo amoroso, quanto político.

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